Principal função de avaliações é monitorar aprendizagem para garantir Educação de qualidade para todos, como dita Constituição
“As grandes vedetes da escola precisam ser o currículo e a atuação dos professores”, afirma Maria Inês Fini, ex-presidente, ex-diretora de Avaliação para Certificação e Competências e ex-diretora do Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos (Encceja), do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Hoje presidente da Associação Nacional de Educação Básica Híbrida, a especialista defende que a avaliação precisa estar a serviço do currículo da escola - e não o contrário.
Desenvolver métodos de avaliação condizentes com as necessidades da Educação brasileira é um dos grandes desafios enfrentados nos últimos anos. Instrumentos fundamentais de monitoramento da aprendizagem, as avaliações convencionais são, muitas vezes, alvo de questionamentos sérios por parte da comunidade escolar. Mas a simples abolição desse instrumento não pode estar em discussão, diz Maria Inês. “A avaliação é importante para uma política pública de garantia de Educação de qualidade para todos, como prevê a Constituição. É ela que permite monitorar se a Educação oferecida no Brasil tem os padrões de qualidade a que todos têm direito.”
Do ponto de vista das escolas públicas, são as avaliações que possibilitam identificar e corrigir possíveis lacunas de aprendizagem ao longo da vida escolar. Segundo a supervisora de avaliações da Editora Aprende Brasil, que atende a rede pública municipal de mais de 200 cidades, Rita Schane, além das avaliações oficiais, é fundamental que as escolas e secretarias de Educação tenham à disposição formas de avaliar o que está sendo aprendido. “Ter à disposição avaliações internas e externas é muito importante para que seja possível adaptar e melhorar os currículos das escolas de acordo com as necessidades de cada município”, afirma.
Não basta avaliar
A integração entre a avaliação e o currículo da escola é um ponto-chave para a Educação brasileira, como destaca Fini. “Os professores precisam aprender a fazer instrumentos de avaliação, a criar referências curriculares que apoiem a avaliação, a fazer itens de avaliação e analisar os resultados para poder, depois, interferir no currículo da escola”, explica. Atualmente, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) oferece uma referência segura para entender quais são as expectativas de aprendizagem que se pode configurar no currículo de cada escola e cada sistema.
“Tudo precisa girar em torno do currículo. A avaliação, por sua vez, tem que estar ajustada àquilo que o professor ensina e da maneira como ele ensina”, afirma a especialista. Ela lembra que, neste momento, os currículos da Educação Básica estão sendo revisitados por uma série de razões, inclusive a pandemia. Da mesma forma, é preciso atualizar os sistemas de avaliação oficiais. “O Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) precisa ser urgentemente atualizado nas suas referências. Até mesmo o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) precisará se modernizar. Além disso, hoje sabemos pelas avaliações internacionais que outras maneiras de avaliar são muito importantes, devido ao advento da educação híbrida.” Ou seja, em pouco tempo não será suficiente ter apenas testes padronizados e outros tipos de tarefas que estão, inclusive, previstos na BNCC.
Neste momento de relativa superação da pandemia, que tanto interferiu no aprendizado de milhões de crianças em todo o mundo, mas sensivelmente no Brasil, uma boa compreensão do que realmente foi aprendido pelos estudantes é crucial. “Precisamos entender o que foi possível ensinar e, a partir disso, o que os alunos puderam aprender. Somente com esse diagnóstico será possível construir um currículo escolar que possa incluir o que ficou para trás ao longo dos próximos anos de estudo dessas crianças”, finaliza Rita.
Maria Inês Fini é a convidada do episódio 36 do podcast PodAprender, cujo tema é “Modelos de avaliação e seus impactos na aprendizagem”. Todos os episódios do PodAprender estão disponíveis no site do Sistema de Ensino Aprende Brasil (sistemaaprendebrasil.com.br), nas plataformas Spotify, Deezer, Apple Podcasts, Google Podcasts e nos principais agregadores de podcasts disponíveis no Brasil.
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