Projeto ensina na prática importância de preservar a natureza
Quem chega ao Centro Educacional Professor Arlindo Winter, em Peritiba, Santa Catarina, logo nota o grande bosque que se ergue imponente aos fundos do terreno, dominando a paisagem. É ali que os alunos da escola aprendem, na prática, por que o meio ambiente precisa ser respeitado e preservado. A equipe pedagógica incluiu a mata entre as atividades práticas de Educação Ambiental, uma maneira de conscientizar por meio do exemplo e da vivência cotidiana.
Desde 2009, a escola municipal trabalha com oficinas de Educação Ambiental com estudantes do 1º ao 5º ano do Ensino Fundamental. Marizete Maltauro é uma das professoras responsáveis pelas oficinas. “Nosso trabalho consiste em manter os espaços organizados e limpos e, para isso, nós utilizamos o bosque, a horta e o jardim da escola, além de trabalhar com a composteira, separação do lixo orgânico e reciclável e captação da água da chuva”, detalha. Mas a grande estrela do projeto é mesmo a Trilha Encontro com a Natureza. Criada em 2017, o caminho ecológico rapidamente se tornou uma ferramenta importante para integrar escola e comunidade em prol da preservação.
Ali, dentro da mata, as crianças ficam em contato direto com a natureza e podem entender melhor por que é fundamental manter a natureza a salvo. “Esse é um espaço para mostrar os tipos de planta, o papel da mata ciliar e a importância da preservação do Arroio dos Veados. Assim, conseguimos sensibilizar as crianças sobre a adoção de práticas sustentáveis e ambientalmente corretas”, explica Marizete. Por causa da pandemia, o projeto está temporariamente, mas a escola continua fazendo a manutenção da trilha, que se tornou uma atração não apenas para os alunos, mas para toda a comunidade.
Mais que colocar os alunos em contato com a natureza, a iniciativa do Centro Educacional ajuda a promover a Educação Ambiental de forma transversal, o que é também uma transformação cultural. "Afinal, o Brasil recicla apenas 1,28% de todo o material plástico que consome, de acordo com dados da World Wide Fund for Nature (WWF). Mudar essa cultura é também papel da escola", indica Josimeire de Lima Sobreira, assessora de Geografia do Sistema de Ensino Aprende Brasil, que atende quase 1,7 mil escolas em mais de 200 municípios em todo o país.
Para ela, proporcionar atividades que envolvam o contato com a natureza é uma das formas mais eficazes de fazer isso. A assessora aconselha que os estudantes precisam acreditar nos problemas ambientais para que se comprometam com o assunto. “Uma técnica é apresentar questões ambientais próximas à realidade em que essas crianças estão inseridas e estimulá-las a buscar soluções para elas”, pontua. O engajamento só acontece quando os estudantes têm o sentimento de pertencer àquela comunidade e de que precisam proteger os recursos naturais que ela possui”, diz.
Educação Ambiental precisa ser interdisciplinar
Além de colocar os estudantes em contato com o meio ambiente, também é indispensável associar as questões ambientais a todas as disciplinas lecionadas no cotidiano escolar. O biólogo e professor do Instituto do Mar da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Ronaldo Christofoletti, lembra que a Educação Ambiental não pertence à aula de Ciências, mas a todas as disciplinas e a todos os espaços. "É preciso adaptar as disciplinas para que eles abordem o tema. Por exemplo, quando se fala no lixo do mar, é possível usar o assunto para ensinar Matemática ou Português, de forma integrada. Precisamos pensar que cada ação nossa influencia a mudança climática, então tudo deve envolver essa temática do meio ambiente”.
Para o engenheiro agrônomo e diretor de Programa do CIAT/Aliança pela Biodiversidade, Fabio Deboni, a questão ambiental é complexa e precisa ser encarada como tal. “Não podemos achar que é simples de resolver, mas o pulo do gato é sair do macro para a realidade local de cada um. Como contribuir para esse pequeno desmatamento do dia a dia que, somado aos demais, gera esse índice grande? Se cada um olhar para o seu dia a dia, vai encontrar um monte de maneiras de melhorar. Não basta dizermos para as crianças ‘não pise na grama, não jogue o lixo na mata’. Em vez disso, é melhor gerar a reflexão para que cada um chegue à conclusão de que jogar o lixo na mata é prejudicial para todos”, ensina.
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