Após o isolamento social, empresários perceberam a mudança do segmento e se adequam para atender às novas necessidades do mercado
Se para alguns setores econômicos de Brasília o cenário é preocupante, devido aos impactos da pandemia, o segmento da arquitetura, do design e da construção civil surpreendem com a constante ascensão do setor, impulsionado pelo crescimento do mercado imobiliário no Distrito Federal. Dados do Sindicato da Indústria da Construção Civil do DF (Sinduscon-DF) apontam que o DF finalizou o primeiro trimestre deste ano com 80% das unidades, comercializadas nos últimos meses, em estágio de obras. Por esse motivo, consequentemente, outras áreas da categoria são impactadas positivamente. Uma ótima estatística para arquitetos, designers e lojistas da cidade.
O presidente da Associação de Empresas do Mercado Imobiliário do Distrito Federal (Ademi DF), Eduardo Aroeira Almeida, conta que a preocupação em manter os cuidados sanitários contribuiu para que o setor não tivesse estagnação e conseguisse atender a demanda. “O empreendedor do DF continua otimista e mobilizado. Nesse momento de recrudescimento da crise sanitária, nossas empresas têm fortalecido a prevenção ao novo coronavírus, de forma que possam manter suas atividades na melhor condição de segurança para o trabalhador”, comenta o presidente da Ademi DF.
Empresas do Distrito Federal que estão vinculadas ao segmento comemoram o crescimento e, paralelo a alta do mercado imobiliário, também apontam a readequação no processo de vendas e o investimento em tecnologia digital como fatores preponderantes para o aquecimento do setor. A empresária Carol Boscarski, diretora de uma loja de móveis planejados em Brasília, endossa essa tese. Mesmo diante de uma pandemia, ela percebeu a mudança do mercado e conseguiu aumentar o número de clientes em 40%. “A palavra-chave é adaptação. Tivemos que realizar adaptações, que implicam em decisões mais práticas como adequar o Home Office, ter uma estrutura digital, ferramentas e processos para gerir a nossa empresa de forma remota. Nós já tínhamos um sistema de gestão de trabalho remoto estruturado e quando a pandemia chegou foi muito rápido para conseguirmos deixar a empresa toda ativa com cada colaborador trabalhando da sua casa.”.
Essa boa fase também impactou diretamente os lojistas do segmento de materiais de construção, um dos que menos demitiram em meio à pandemia, reflexo do bom desempenho. A previsão da Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção (ABRAMAT) é que o setor cresça 4% neste ano. Bruno Coelho, diretor comercial da Finitura Acabamentos, uma loja dedicada ao comércio de produtos de acabamentos para a construção civil, explica que se surpreendeu com o desempenho das vendas e não imaginava que Brasília se destacaria no setor e ainda teria o mercado aquecido em um momento tão delicado como o vivido pelo país atualmente. Ele adianta também que realizou algumas adequações. “O aumento da demanda por materiais de construção, ocasionado pela percepção do brasiliense em ajustar a sua casa para atender a uma nova nova realidade de vida, aliado ao nosso planejamento de produtos a pronta-entrega e atendimento remoto fizeram com que as vendas da nossa empresa mantivessem aquecidas, sem a necessidade de cortes de funcionários”.
Não são apenas os fornecedores de produtos do segmento que tiveram crescimento em suas empresas. Agências de marketing e comunicação da capital federal, atreladas à arquitetura, design, decoração e construção, também registraram um aumento de clientes, como é o caso da Agência Fato, que atua neste segmento há quase 20 anos. A agência abrangeu ainda mais a sua atuação devido ao crescimento da demanda e da necessidade dos empresários em driblarem a crise econômica e estimular a geração de negócios. “Surpreendentemente, em um momento em que agências de comunicação sofriam com a redução da cartela de clientes, a Agência Fato vivia um momento de intensificação das suas atividades e o surgimento de novos clientes. Isso porque, a maioria dos empresários foram surpreendidos com a pandemia, fazendo com que eles necessitassem de empresas de marketing especializadas, que os fortalecessem no mercado e os ajudassem a manter os seus empreendimentos.”, revelou Chiara Brandão, diretora da Agência Fato.
Escritórios brasilienses de arquitetura também festejam a ascensão do segmento. O arquiteto e sócio do escritório Albuquerque e Peres, localizado na Asa Sul, Hélio Albuquerque percebeu o crescimento do número de clientes em 60%. “Passado o primeiro momento, onde o susto tomou conta de todos e as adaptações de postura começaram a ser tomadas, o olhar voltou para dentro de casa. Isso causou não apenas um aumento significativo de novos clientes em busca de profissionais, mas também uma imediata reestruturação dos espaços e do modo de usar e viver neles. Em nosso escritório, podemos sem equívoco, afirmar um aumento de 60% de novos clientes no período da pandemia. Paralelo a essa demanda, tivemos ainda os clientes já fidelizados tornando urgente aquilo que ficaria para um outro momento. Ressignificar e compartilhar passaram a ser as palavras de órdem.”, disse.
O profissional ainda destaca que o Home Office agora é prioridade nos projetos feitos neste período de pandemia, mostrando que a mudança na rotina das pessoas impulsionou a necessidade da transformação de ambientes, o que impactou em toda a cadeia de crescimento do setor. “A maior solicitação foi pelo canto de trabalho e de estudo. Um local exclusivo para essas funções nem sempre era viável. Elaborar espaços multiusos de forma harmônica e principalmente funcional foi o grande desafio e, consequentemente, a maior demanda dos clientes para os profissionais. Nunca se valorizou tanto a iluminação e a ventilação natural. Priorizar o conforto e todas as suas possibilidades, mais do que nunca, passou a ser o foco dos novos tempos.”, revelou.
A arquiteta Thaciana Silveira teve a sua rotina profissional acelerada em 100% por conta do aumento dos projetos na Conte Arquitetura e Engenharia, o seu escritório, localizado na Asa Norte. Entretanto, ela revela que esse crescimento aconteceu de forma progressiva. “Tudo ocorreu de maneira gradativa. A princípio, o surgimento de novos projetos ficou totalmente parado por dois meses e depois os clientes foram criando coragem.”.
Conforme Thaciana, a pandemia mudou as prioridades das pessoas, que passaram a valorizar o conforto do lar. "Os clientes querem viver melhor e pararam de viajar, daí o dinheiro foi direcionado ao bem estar da casa.”, pontuou.
A profissional ainda revela que percebeu a mudança na preferência dos clientes, optando por morarem em casas. “Muitas pessoas sentiram a necessidade de viverem em casas ao invés de apartamentos, dando prioridade a casas térreas, práticas e sem muitas demandas de manutenção . Piscinas e área de lazer também são espaços que estão sendo muito valorizados.”