Mulheres provocam reprogramação das relações promovendo empoderamento coletivo baseado na equidade de gênero e inclusão
Codar na linguagem femme.com (lê-se ter um equilíbrio entre homens e mulheres nos times de tecnologia, inovação e liderança dos negócios) é um caminho sem volta na transformação digital em curso, tanto pela urgência social da equidade de gênero, quanto por resultados financeiros exponencialmente melhores. Basta pesquisar sobre empresas, negócios e até países que melhor souberam enfrentar os desafios impostos pela pandemia, para constatar o perfume inconfundível da soma das habilidades técnicas e pessoais do gênero feminino pautando as decisões mais acertadas. Prova disso foi a reeleição da primeira-ministra da Nova Zelândia, Jacinda Ardern, após ganhar notoriedade mundial pela eficiência nas medidas de contenção adotadas durante a pandemia.
No cenário interno, também não faltam exemplos de mulheres que participam ativamente dessa revolução silenciosa de padrões, encontram espaços nas suas agendas para motivar outras a se capacitarem à indústria da tecnologia e somam o legado da atual geração às valiosas contribuições, muitas vezes invisíveis, de suas antecessoras.
Em comum, essas mulheres carregam uma convicção contagiante e libertadora de que a tecnologia é um meio e sempre trata de pessoas que influenciam esse meio com seus vieses. “Somos poucas porque a nossa cultura e a nossa criação não nos guiou até aqui e acredito fortemente que isso não se repetirá com a geração de meninas de hoje”, projeta Fernanda Hembecker, professora e coordenadora de curso de Tecnologia em Análise e Desenvolvimento de Sistemas e Bacharelado em Sistemas de Informação" da Universidade Positivo. Essa compreensão explica de maneira objetiva o valor da diversidade em qualquer negócio. Em números, tal percepção e o uso adequado dela podem incrementar US$ 12 trilhões à economia mundial, segundo estima a empresa global de consultoria e gestão Mckinsey & Company, em um estudo sobre os ganhos decorrentes do poder da paridade e a evolução da equidade de gênero.
#todaspelaequidade
No entendimento do Pacto Global da Organização das Nações Unidas (ONU), em um mundo cada vez mais globalizado e interligado, a utilização de todos os ativos socioeconômicos é crucial para o desenvolvimento dos negócios e a sustentabilidade do planeta. Esse tipo de entendimento ecoa entre as mulheres que assumiram protagonismo na revolução mais inclusiva de todos os tempos em diferentes tipos de organizações, de bancos com estruturas tradicionais a gigantes do e-commerce. São elas que estão garantindo pluralidade às soluções tecnológicas em curso e tornando a inclusão digital um caminho possível para todos e todas que flertam com o desejo de atingir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável sobre gênero até 2030.
Na visão de Soraia Andrade, a questão da equidade de gênero ganhou novos contornos com a aceleração da transformação digital. “O problema mudou: precisamos de profissionais que podem sair dos públicos mais diversos. A quebra de paradigmas passa a acontecer nas organizações pelo entendimento de que uma condição não é uma competência”. A ponderação vem de uma profissional que há duas décadas trilha uma carreira de resultados na indústria da tecnologia e, atualmente, é a enterprise account manager da Amazon no Brasil. Paralelamente, ela faz a sua parte na transformação digital, contribuindo com o Girls in Tech Brasil, uma das iniciativas para inserir mais mulheres no universo da tecnologia.
Segundo Soraia, todo mundo que trabalha com tecnologia possui capacidade para ser um cientista de dados. “Se eu der a competência que eu preciso, ela preencherá esse gap de profissionais do mercado. Metodologias ágeis podem ser porta de entrada, mas não resolvem tudo. Precisamos quebrar as barreiras culturais para receber uma profissional do gênero feminino ou qualquer pessoa que queira ser incluída neste universo digital”, ressalta.
A diretora de Tecnologia e Operações da Tecnobank, Adriana Saluceste, converge na mesma direção de Soraia, de que a tecnologia está catalisando a evolução para uma sociedade mais inclusiva. “Como disse Steve Jobs, ‘todas as pessoas deveriam aprender a programar um computador porque isso ensina a pensar’. Muitos são os motivos que levam diferentes perfis a programar, e o ganho que a diversidade proporciona nesse processo é muito expressivo e com mais assertividade”, defende. Apaixonada por tecnologia e inovação e com mais de 18 anos de atuação no mercado, gerindo equipes multidisciplinares em TI, Adriana cita que além da linguagem de programação, a diversidade também amplia o leque de metodologias como Scrum, Design Thinking e Lean. “Essa transformação digital reforça a necessidade de mais colaboração e flexibilidade entre os times”, acrescenta.
A gerente sênior de planejamento e produtos digitais no Itaú Unibanco, Joice Almeida, defende como fundamental para a inclusão de mais pessoas na transformação digital a educação sobre linguagem de programação, robótica, Inteligência Artificial e Cognitiva. “Sou muito apaixonada pela ideia de diversidade e inclusão em tecnologia. O desafio é torná-la acessível, aberta e convidativa ao maior número possível de pessoas”, aponta. Ela considera que nem todas as pessoas envolvidas em tecnologia precisam saber “codar”. “O fato de alguém não saber como criar um código, não significa que não tenha conhecimento válido para atuar em tecnologia, muito pelo contrário, a construção de produtos e soluções digitais de impacto, que sejam efetivos e centrados no cliente, requerem o envolvimento de muitas disciplinas. É sempre sobre pessoas e é isso que torna esse ambiente tão fascinante”, argumenta.
Gap de gênero no setor de tecnologia em números
A sub-representação feminina na indústria da tecnologia ainda é marcante e mudar esse cenário faz todo o sentido dentro do desenvolvimento sustentável proposto na Agenda 2030 da ONU. De acordo com o IBGE, apenas 20% dos profissionais que atuam no mercado de TI são mulheres. Segundo a ONU Mulheres, na escola, 74% das meninas demonstram interesse pelas áreas de Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática, mas quando chega a hora de escolher uma graduação, apenas 0,4% dessas meninas escolhem Ciência da Computação.
Para a Unesco, a agência da ONU para educação, ciência e cultura, problemas como discriminação e sub-representação das meninas na educação em STEM (Science, Technology, Engineering e Mathematics/Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática) são freios prejudiciais para o desenvolvimento sustentável, pois deixam as mulheres de fora dos principais postos de trabalho gerados pela revolução digital, sendo que somente 18% delas têm graduação em Ciências da Computação e são, atualmente, apenas 25% da força de trabalho da indústria digital.
Empoderamento a um click
Delas vêm as iniciativas para inserir mais mulheres no universo da tecnologia, reduzindo o gap de gênero por meio da educação. Conheça 10 iniciativas em atuação no Brasil que enfrentam as causas e estão revertendo com capacitação e conhecimento o baixo número de mulheres nas áreas de Tecnologia e Inovação.