Em entrevista ao portal, Richard Dubois fala sobre o apetite comercial pelo DF, de fato, parece não ter fim. Com experiência de dez anos em projetos de concessão do poder público, Dubois está na disputa pela gestão do aeroporto executivo, do metrô e da rodoviária, todos na capital federal. "Tem capital financeiro sobrando (nos bancos), tem capital humano (no mercado), não tem concorrência (os principais players foram afetados pela Operação Lava-Jato). Vamos avançar sem fazer nenhuma loucura ou insensatez", diz Richard Dubois
Fotos: Rayra Paiva Franco.
Em fevereiro deste ano, o Complexo Esportivo de Brasília passou a ser administrado pela Arena BSB. A empresa é responsável pelo espaço que conta com o Estádio Nacional Mané Garrincha, o Ginásio Nilson Nelson e o Complexo Aquático Cláudio Coutinho. A ideia é construir um boulevard para revitalizar a área, proporcionando um lugar especial para os brasilienses, com entretenimento e lazer. Além disso, uma das missões é fazer com que o Estádio seja palco de grandes atrações muito em breve. Assim como todo o mundo, a agenda prevista pela Arena BSB foi pausada por conta da pandemia do novo coronavírus. Mas para o segundo semestre de 2021, é esperado que diferentes eventos nacionais e internacionais ocupem o Complexo Esportivo.
"Queremos fazer com que o Estádio Nacional e o seu entorno sejam um dos maiores polos de entretenimento e lazer do Brasil e, quem sabe, da América Latina." – Richard Dubois, presidente da Arena BSB.
7 meses após assumir o local, o presidente da Arena BSB, Richard Dubois, recebeu a nossa equipe no Estádio Nacional. No meio do campo, o empresário nos conta como recebeu o impacto da pandemia, os planos para 2021 e os detalhes da construção do novo espaço, que ele chama carinhosamente de "a grande pracinha de Brasília".
1-) Para você que está administrando tudo isso desde fevereiro, corta o coração ver isso aqui (O Estádio) vazio por tanto tempo por conta da pandemia?
Richard Dubois: Olha, corta o coração. A gente tinha uma agenda de eventos tão grande, tão bem montada para esse ano. Vai ficar para o ano que vem. A gente tem 35 anos de concessão, então os problemas de curto prazo, e aí um ano no nosso cronograma é curto prazo, são gravíssimos, são seríssimos, mas os nossos planos de longo prazo continuam inalterados, inabaláveis. E a gente vai transformar isso aqui, vai fazer isso aqui numa grande casa de show e eventos, para o Brasil, para a América Latina. A gente quer que seja uma referência para o mundo.
2-) O Estádio Nacional Mané Garrincha é só uma peça, não é?
Richard Dubois: É a peça central, é a peça icônica, é a peça que chama atenção do público. Mas nós estamos construindo todo um entorno aqui, estamos licenciando agora, já aprovado em diversos órgãos, em fase final de aprovação. Esperamos que no ano de 2021 ele esteja em obras para que em 2022, o brasiliense, o brasileiro, tenha acesso, possam desfrutar desse complexo, vai ter restaurante, cinema, teatro. Vai ser um lugar muito legal para vir, ver, ser visto, curtir e se divertir.
3-) Agora foi um 'pé no freio' essa pandemia? Vocês vinham aí com muitos projetos. Trabalhando pra que tudo fluísse da melhor forma possível. E aí 45 dias de administração, fecha tudo…
Richard Dubois: Olha, foi, acho que 'pé no freio' é até um eufemismo, viu? Foi uma pancada mesmo. Doeu tudo. Mas é a vida, né? A vida é feita de superação de problemas. No começo a gente achava que seria coisa de um mês, dois meses. Eu me lembro, logo no começo a gente tinha um show de uma banda internacional para maio, a gente negociou para agosto e falou 'ah, em agosto passou tudo'. Já passou agosto, já passou setembro e essa banda talvez venha no segundo trimestre do ano que vem. "A gente não perdeu os eventos, mas eles ficaram todos adiados." Tem artistas que querem vir, tem artistas que não querem vir. O jogo de futebol a gente não sabe quando vai poder ter público. A evolução da pandemia é muito difícil, mas acho que faz parte do desafio. A gente encara como um desafio, com muita confiança, com muita fé, que a gente vai conseguir superar isso. E 2022 vai ser um ano maravilhoso.
4-) Qual é o panorama que você faz para 2021. Como é que você espera que a gente esteja, como o Estádio Nacional Mané Garrincha esteja, no ano que vem?
Richard Dubois: A gente espera que esteja cheio. A gente tem convicção de que o panorama do segundo semestre é muito bom. O primeiro semestre vai depender da vacina e da confiança da população. Não é só o governo liberar, a população tem que se sentir confortável, feliz. Isso aqui é um lugar de emoções, que você vem pra se emocionar, seja com show, seja com esporte, e a pessoa tem que tá aberta pra isso.
5-) E mesmo durante a pandemia, vocês estão conseguindo fazer alguns eventos, promover algumas atrações culturais. Do lado de fora do Estádio, como o drive in, que vocês estão recebendo alguns shows. Como foi pensado tudo isso?
Richard Dubois: Nós montamos não um, mas dois drive ins, com formatos um pouco diferentes. A gente sempre tem uma postura criativa. Olha, não dá pra fazer dentro, vamos fazer fora. Tem que fazer dentro do carro? Vamos fazer dentro do carro. Tem muita gente que gosta, porque se sente num camarote particular. Cada um tem o seu pequeno camarote. Pode curtir, pode ver, talvez não tenha aquela interação com os vizinhos, com as outras pessoas do show. Mas dentro do grupo é muito gostoso.
6-) Vocês têm esses projetos aqui para o Estádio, mas também tem um projeto que vai ser alocado do lado externo. Como vai ser isso?
Richard Dubois: Nós temos aqui, além do Estádio Nacional, do Ginásio Nilson Nelson, do Complexo Aquático, nós temos o terreno de 830 mil metros, no Eixo Monumental, no coração da república. O contrato de 35 anos prevê benfeitorias no entorno do Estádio Mané Garrincha, como a construção de um boulevard de lazer, compras e serviços, que incluirá o segundo maior complexo de cinemas do Brasil, com 16 salas, em área construída de 100 mil metros quadrados. Será o investimento mais pesado: inicialmente, R$ 500 milhões. O Banco Fator será o responsável pela estruturação financeira para captação de R$ 350 milhões – o restante virá de acionistas e parceiros da Arena BSB. "Queremos torná-lo ponto de encontro, para darmos essa experiência de centro de cidade que Brasília não tem. E nós temos autorização para fazer um boulevard, uma área de entretenimento e lazer, com 150 mil metros. Já é uma pequena área do terreno, mas é uma grande área para a população, e a gente quer trazer para cá o melhor da cultura, do lazer, e para ser a grande pracinha de Brasília. Muita gente diz que Brasília é uma grande cidade do interior. "A gente quer ser a pracinha com a igrejinha, com banco, o lugar que as pessoas vêm para ver, serem vistas e se encontrarem."
7-) Vocês estão investindo em outros projetos no Distrito Federal?
Richard Dubois: Sim estamos. Já arrematamos a concessão da Torre de TV Digital de Brasília, que aguarda trâmites burocráticos com a Terracap (Agência de Desenvolvimento) para a assinatura do contrato válido por 20 anos. A cessão do espaço deverá render aos cofres públicos R$ 1,3 milhão por ano, além da economia com a manutenção. O nosso objetivo é criar ali uma área de eventos permanente, aproveitando o fato de a torre estar localizada em um dos pontos mais altos da capital, com paisagem privilegiada. Também estamos buscando o Aeroporto Executivo de Brasília. A área está sob concessão emergencial da Infraero, mas a iniciativa privada pode fazer uma operação melhor. Proposta de PPP tramita há quase dois anos e o investimento inicial seria de R$ 60 milhões, além dos R$ 200 milhões que planejamos aplicar em expansão imobiliária no entorno. Exploração comercial garantiria a viabilidade para outras obras no aeroporto, com a construção de hangares, o alargamento da pista e a operação de voos noturnos. No campo da mobilidade, outra investida nossa é na rodoviária da cidade. Um plano de estudos técnicos para concessão da rodoviária do Plano Piloto e do metrô, com foco na redução de custo de operação para o governo e na melhoria da qualidade para o usuário, já está com o poder público.
7-): O que você gostaria de falar e deixar de mensagem para o público de toda a capital federal?
Richard: Olha, é uma mensagem de esperança. É uma mensagem de que Brasília é uma cidade maravilhosa. É uma cidade que atrai gente do Brasil inteiro, do mundo inteiro. É uma cidade única, que tem uma arquitetura maravilhosa, a gente quer respeitar, a gente quer se integrar a esse plano arquitetônico e a gente quer que o brasiliense tenha mais opções para curtir, para se divertir. E a gente ouve muita reclamação: 'olha, faltam alternativas'. A gente quer vir aqui promover mais uma opção para os brasilienses.