Com a aprendizagem, empresas também colhem frutos, como a formação e a retenção de capital humano de qualidade
Por Humberto Casagrande
Numa economia pressionada pela necessidade de reduzir gritantes falhas na qualificação da força de trabalho – tanto para melhorar os indicadores de produtividade quanto para viabilizar a inclusão social do enorme contingente de brasileiros despreparados para o mercado de trabalho -, o maior desafio não é escolher entre as diversas soluções apresentadas por setores, autoridades e especialistas preocupados com a questão. O verdadeiro nó a desatar é como calibrar as propostas que são colocadas na mesa, de forma a atender a diversidade das pessoas que devem ser qualificadas, tanto no aqui e agora quanto para o futuro.
A meu ver, boa parte das sugestões propostas nesse sentido é pertinente. Entretanto, elas pecam por serem pontuais, ou seja, cada uma tem foco num segmento do enorme contingente de mais de 40 milhões de brasileiros que estão desocupados, entre os quais 14 milhões de desempregados e o restante composto por aqueles que desistiram de procurar uma vaga. Apenas esses números brutos, levantados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), sinalizam para a importância de organizar e debater um projeto nacional de qualificação profissional escalonado por etapas, de maneira que sejam atendidas as condições e demandas de cada um dos segmentos que integram a diversificada força de trabalho do país.
Nela estão incluídos, entre outros, veteranos com formação superior ou com larga experiência, mas defasados; trabalhadores em busca de novas habilidades para conseguir promoção ou aumento de salário; estudantes recém-saídos da universidade sem experiência prática; jovens que concluíram ou abandonaram o ensino médio, e que exerceram, na melhor das hipóteses, uma atividade informal, e por aí vamos.
Ou seja, a própria realidade aponta para a importância de somar soluções escalonadas para desatar o antigo e resistente nó da precária qualificação do trabalhador brasileiro. Mesmo sem grandes análises, não é difícil constatar que, na corrida por emprego, o segmento jovem sai com grande desvantagem. Boa parte desse grupo é composta por jovens de baixa escolaridade, que sequer atendem aos requisitos básicos das atuais funções do mundo corporativo, seja por deficiências comportamentais – hoje altamente valorizadas -, seja por falta de competências técnicas mínimas que os habilitem a se candidatar, com alguma margem de segurança, até a vagas mais simples.
Ponto dos mais interessantes é que programas existentes revelaram eficácia, que poderá ser reforçada com a integração deles no desafio de aprimorar a formação do profissional, tanto para se manter ou se reinserir quanto para ingressar no mundo do trabalho. Ou seja, são iniciativas que não devem ser vistas como excludentes, mas, sim, complementares. Focando especificamente no segmento dos jovens ávidos por conseguir o primeiro emprego, a experiência do CIEE indica que o programa de aprendizagem, moldado de acordo com a Lei nº 10.097/2000, funciona como uma espécie de “cursinho pré-vestibular” para o futuro profissional.
Isso porque, graças à capacitação teórica alinhada à prática de uma função na empresa, a aprendizagem bem conduzida corrige deficiências comportamentais (as soft skills) e elimina algumas das falhas do ensino escolar. Para se ter ideia de que grupo estamos falando, basta citar que muitos dos atuais ou ex-beneficiados aprenderam, nas nossas aulas de capacitação teórica, a se vestir de acordo com o ambiente corporativo, a adotar práticas diárias de higiene pessoal, a atuar em equipe, a administrar as finanças familiares, a seguir recomendações para ter uma vida saudável, entre outros conhecimentos. Nossa grade de cursos para aprendizes inclui, ainda, matemática básica, introdução à informática, comunicação escrita e oral, orientação de carreira, entre outros conteúdos – tudo sempre permeado por estímulos à continuidade da formação escolar e ao aprendizado contínuo.
A percepção desse cenário mostra o valor da aprendizagem como o primeiro e fundamental passo na preparação dos jovens para o sucesso das próximas etapas de uma eficaz formação profissional, algumas tão sofisticadas que preveem até envio do beneficiado ao exterior – o que exigiria candidatos com avançado desenvolvimento pessoal e educacional. É uma boa proposta, embora evidentemente restrita a um pequeno número de jovens. Nossa experiência, confirmada por pesquisas independentes, mostra, muitas vezes, que esse primeiro passo dá impulso para que um expressivo número de jovens avance por conta própria. Por exemplo, estudo do Datafolha revela que 43% dos milhares de egressos do Programa de Aprendizagem do CIEE nos anos de 2016 e 2017 estavam matriculados em cursos superiores.
Esse é um dos mais relevantes resultados da aprendizagem, na perspectiva dos jovens. As empresas contratantes também colhem frutos, como a atração, a formação e a retenção de capital humano de qualidade. Mas, sem dúvida, quem ganha mais é o país, que passa a contar, investindo pouco, com crescente número de trabalhadores mais qualificados, motivados e formados como cidadãos.
*Humberto Casagrande é CEO do Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE).
Por Humberto Casagrande
Numa economia pressionada pela necessidade de reduzir gritantes falhas na qualificação da força de trabalho – tanto para melhorar os indicadores de produtividade quanto para viabilizar a inclusão social do enorme contingente de brasileiros despreparados para o mercado de trabalho -, o maior desafio não é escolher entre as diversas soluções apresentadas por setores, autoridades e especialistas preocupados com a questão. O verdadeiro nó a desatar é como calibrar as propostas que são colocadas na mesa, de forma a atender a diversidade das pessoas que devem ser qualificadas, tanto no aqui e agora quanto para o futuro.
A meu ver, boa parte das sugestões propostas nesse sentido é pertinente. Entretanto, elas pecam por serem pontuais, ou seja, cada uma tem foco num segmento do enorme contingente de mais de 40 milhões de brasileiros que estão desocupados, entre os quais 14 milhões de desempregados e o restante composto por aqueles que desistiram de procurar uma vaga. Apenas esses números brutos, levantados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), sinalizam para a importância de organizar e debater um projeto nacional de qualificação profissional escalonado por etapas, de maneira que sejam atendidas as condições e demandas de cada um dos segmentos que integram a diversificada força de trabalho do país.
Nela estão incluídos, entre outros, veteranos com formação superior ou com larga experiência, mas defasados; trabalhadores em busca de novas habilidades para conseguir promoção ou aumento de salário; estudantes recém-saídos da universidade sem experiência prática; jovens que concluíram ou abandonaram o ensino médio, e que exerceram, na melhor das hipóteses, uma atividade informal, e por aí vamos.
Ou seja, a própria realidade aponta para a importância de somar soluções escalonadas para desatar o antigo e resistente nó da precária qualificação do trabalhador brasileiro. Mesmo sem grandes análises, não é difícil constatar que, na corrida por emprego, o segmento jovem sai com grande desvantagem. Boa parte desse grupo é composta por jovens de baixa escolaridade, que sequer atendem aos requisitos básicos das atuais funções do mundo corporativo, seja por deficiências comportamentais – hoje altamente valorizadas -, seja por falta de competências técnicas mínimas que os habilitem a se candidatar, com alguma margem de segurança, até a vagas mais simples.
Ponto dos mais interessantes é que programas existentes revelaram eficácia, que poderá ser reforçada com a integração deles no desafio de aprimorar a formação do profissional, tanto para se manter ou se reinserir quanto para ingressar no mundo do trabalho. Ou seja, são iniciativas que não devem ser vistas como excludentes, mas, sim, complementares. Focando especificamente no segmento dos jovens ávidos por conseguir o primeiro emprego, a experiência do CIEE indica que o programa de aprendizagem, moldado de acordo com a Lei nº 10.097/2000, funciona como uma espécie de “cursinho pré-vestibular” para o futuro profissional.
Isso porque, graças à capacitação teórica alinhada à prática de uma função na empresa, a aprendizagem bem conduzida corrige deficiências comportamentais (as soft skills) e elimina algumas das falhas do ensino escolar. Para se ter ideia de que grupo estamos falando, basta citar que muitos dos atuais ou ex-beneficiados aprenderam, nas nossas aulas de capacitação teórica, a se vestir de acordo com o ambiente corporativo, a adotar práticas diárias de higiene pessoal, a atuar em equipe, a administrar as finanças familiares, a seguir recomendações para ter uma vida saudável, entre outros conhecimentos. Nossa grade de cursos para aprendizes inclui, ainda, matemática básica, introdução à informática, comunicação escrita e oral, orientação de carreira, entre outros conteúdos – tudo sempre permeado por estímulos à continuidade da formação escolar e ao aprendizado contínuo.
A percepção desse cenário mostra o valor da aprendizagem como o primeiro e fundamental passo na preparação dos jovens para o sucesso das próximas etapas de uma eficaz formação profissional, algumas tão sofisticadas que preveem até envio do beneficiado ao exterior – o que exigiria candidatos com avançado desenvolvimento pessoal e educacional. É uma boa proposta, embora evidentemente restrita a um pequeno número de jovens. Nossa experiência, confirmada por pesquisas independentes, mostra, muitas vezes, que esse primeiro passo dá impulso para que um expressivo número de jovens avance por conta própria. Por exemplo, estudo do Datafolha revela que 43% dos milhares de egressos do Programa de Aprendizagem do CIEE nos anos de 2016 e 2017 estavam matriculados em cursos superiores.
Esse é um dos mais relevantes resultados da aprendizagem, na perspectiva dos jovens. As empresas contratantes também colhem frutos, como a atração, a formação e a retenção de capital humano de qualidade. Mas, sem dúvida, quem ganha mais é o país, que passa a contar, investindo pouco, com crescente número de trabalhadores mais qualificados, motivados e formados como cidadãos.
*Humberto Casagrande é CEO do Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE).
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