Não há quem não se queixe do que paga de condomínio todo mês. No topo da pirâmide, o valor é tão alto que chega a empatar com o aluguel de um imóvel um pouco menor em bairro menos valorizado
A comparação internacional não deixa dúvidas: a taxa que os brasileiros pagam é muito elevada. Segundo a Athena Advisers, empresa especializada na venda de imóveis na Europa para estrangeiros, o valor médio em Brasília e São Paulo é três vezes a de Lisboa. O condomínio nessas cidades brasileiras custa, em média, R$ 10 por m². Em Belo Horizonte, R$ 8. Já na capital portuguesa, paga-se R$ 3,30.
Aldo Júnior, especialista em assessoria condominial, afirma que os preços elevados decorrem do “custo Brasil”. Segundo ele, a carga tributária encarece o serviço e os produtos necessários para a manutenção. “O imposto direto e indireto pode chegar a 70% do total. É uma barbaridade”, declara o especialista.
Segundo Júnior, como a renda per capita em Brasília é elevada, é preciso pagar salários mais altos, o que influencia os valores dos condomínios. Os preços no Distrito Federal, diz, são 30% a 40% maiores do que em Goiânia. A Associação Brasileira de Síndicos e Síndicos Profissionais (Abrassp) calcula que o preço médio do condomínio na capital é de R$ 430. Isso é R$ 80 a mais que a média nacional.
Moradores reclamam que, além de serem altas, as taxas continuam subindo muito. De março de 2016 a fevereiro de 2017, a Associação das Administradoras de Bens Imóveis e Condomínios de São Paulo (Aabic) verificou que os preços subiram 6,62%, acima do Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M), de 5,38% no período.
Reajuste
No DF, há aumentos bem acima disso. O funcionário público Edmilson Magalhães comprou um apartamento no Guará há três anos. Desde então, o condomínio dobrou. Hoje, ele paga cerca de R$ 750. “O último reajuste foi de 13%. Hoje eu pago R$ 15 por metro quadrado”, critica.
Segundo Tchezary Medeiros, advogado tributarista e imobiliário, em vez de uma taxa fixa, deveria haver rateio de gastos. “Os valores podem dobrar com essa prática”, afirma o especialista. Graças ao valor preestabelecido, acabam surgindo despesas supérfluas.
Outra grande discussão é o valor fixo para a conta de água. Moradores reclamam que os síndicos não adotam hidrômetros individuais, aparelhos que medem o consumo de água em cada unidade. Segundo a aposentada Maria das Graças, 65 anos, isso prejudica alguns moradores. “O certo seria cada um pagar a sua parte. Tem apartamento em que só mora uma pessoa e se paga o mesmo valor que uma família grande”, avalia Maria.
Paulo Melo, presidente da Abrassp, discorda de que o valor médio dos condomínios seja alto, mas reconhece que há vários exemplos de preços abusivos. “Um bloco na Asa Sul com 18 unidades que cobre R$ 800, mesmo sem ter piscina, salão de festa, área de lazer ou academia, só o zelador, está com valor superior ao que deveria”, declara.
O servidor público Altair Araújo, 52 anos, morador da Asa Sul, paga R$ 1.300 em um prédio de 24 unidades na Asa Sul. “O custo de manutenção é altíssimo porque o prédio é cheio de tubos velhos. O gasto com água é gigantesco, em plena crise hídrica”, critica.
Diferentemente do que se acredita, não são a área de lazer, piscina ou churrasqueira que mais encarecem o condomínio. O principal gasto do prédio é com os funcionários. Em São Paulo, o custo com pessoal representa entre 50% e 55% do total do orçamento, segundo a Lello, empresa de administração condominial.
A terceirização de funcionários poderia aliviar o orçamento dos imóveis. “Contratar uma empresa terceirizada é, sem dúvida, boa opção para o síndico reduzir os gastos do condomínio. Antes tinha uma briga muito grande com o sindicato dos funcionários porque isso era atividade-fim. Mas, com a nova lei da terceirização, tudo muda”, afirma Melo, da Abrassp.
Nem todos os prédios, porém, podem ser beneficiados. Segundo ele, isso depende do número de unidades no edifício. “Um imóvel com 18 unidades vai pagar caro para a empresa prestar o serviço. Já um condomínio-clube consegue diminuir os custos dos funcionários com a terceirização”, diz.
A aposentada Rosemary Cintra, 59 anos, mora no Sudoeste e paga R$ 1.200 na taxa mensal. No prédio, há seis funcionários, dos quais não gostaria de abrir mão. “Se contratar uma empresa, não há confiança nas pessoas”, comenta.
Júnior afirma, porém, que os serviços terceirizados podem ser até melhores. “Se um funcionário não estiver fazendo o que precisa, basta o síndico pedir para que seja substituído. No caso do contratado, se um trabalhador fizer corpo mole, será preciso demitir e pagar todos os encargos trabalhistas”, explica.
Número de unidades
Especialistas destacam que é preciso avaliar o número de unidades antes de comparar preços de condomínios. Quanto menos apartamentos, maior será o valor, porque o rateio das despesas terá menor divisor. O de um imóvel no Plano Piloto em um prédio com 24 unidades vai custar mais que o de uma residência em edifício em Águas Claras com 60, ainda que tenham a mesma área interna.
Fonte: Correio Braziliense.
Cidades e Condomínios por Celso Eduardo da Silva Reis Junior
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